08 julho 2007

Mauro: “Está uma teta a Série C.”

Por telefone, conversei com Mauro Fernandes. Uma simpatia no trato à imprensa, independente do horário.

Contudo, ontem, início da tarde, estava diferente. Entendi na primeira resposta.

Mauro pediu demissão do Ceilândia-DF para cuidar da mãe, então muito doente, que acabou falecendo dias atrás.

Fiquei constrangido. Falei com ele apenas duas vezes desde a saída do Vitória, a última há uns três meses.

Espirituoso, mudou o tom e deu corda a animada e informal conversa.


Analisou a Série C, elogiou a estrutura dos clubes baianos, mas discordou de sua demissão do Vitória.

Reproduzo parte abaixo:

MS – O que você achou de Bahia e Vitória?
MF – Gostei muito. O Vitória tem uma estrutura do caramba! O Bahia, também. Estava muito mal-tratado quando cheguei, mas soube que o pessoal começou a cuidar e deu uma melhorada. E o time?

MS – Artur começou bem, mas passou a inventar. Escalou 40 times diferentes no ano. Não repetiu uma escalação e vai improvisar Ávine no meio-de-campo contra o Confiança-SE.
MF – Ávine!? Artur gosta de testes, igual ao Carpegiani. E os salários? Estão pagando, não?

MS – Mais ou menos. O elenco está em dia. Os funcionários, bem, a diretoria faz aquele escalonamento de pagar quem ganhar menos, os outros não...
MF – Isto mata o grupo! Eu sempre cobrava pois funcionário precisa de alegria. Dizia: “Paga o funcionário que ganha pouco e deixa o jogador para depois”. O clima fica ruim, tem maus fluidos. Minha saída foi por causa disto, pela falta de perspectiva.

MS – Você acha que o Bahia sobe?
MF – Está uma teta a Série C. Muito mais fácil que o ano passado. Nossa, uma teta! Tem que aproveitar!

MS – Quais times você tem informações? Quem sobe?
MF – Eu tinha fichas de todos os time da Série C e passei para o Ceilândia-DF. De São Paulo, o Noroeste é o mais arrumado. O Paranavaí manteve a base do estadual e deve surpreender. O Atlético Goianiense vai disputar. De Minas, o Democrata se reforçou, mas não aposto. Soube que o ABC está razoável, mas tampouco deve ter ritmo até o octogonal.

MS – E Paysandu, Guarani...
MF – O Paysandu pode descartar. Com o que tem hoje, carta fora. Também não acredito no Guarani, apesar de toda tradição. De São Paulo, arrisco mais o Noroeste.

MS – E o Vitória? Oscila demais na Série B. Eu esperava que largasse melhor.
MF – Ninguém entende e se comenta muito. Eu também acreditava no potencial, ainda mais com o time montado.

MS – É quase a mesma escalação de sua época.
MF – Mudou apenas o goleiro. Eu escalava Emerson; Apodi, Sandro, Jean e Alysson; Vanderson, Bida, Garrinchinha, na maioria das vezes; e Jackson. Na frente, Índio e Joãozinho.

MS – Você colocou Índio no ataque e Bida como volante.
MF – Índio no ataque, Bida, volante, apostei e dei confiança ao Alysson, que queriam mandar embora e ainda não acharam substituto. Saí líder do Campeonato Baiano.

MS – Você fez um bom trabalho, mas futebol, mais que eu, você sabe como é.
MF – Peguei o Bahia acabado no Baiano e fui eliminado no Ba-Vi da Fonte Nova. Saí líder da Série C, peguei o Vitória em situação delicada e fomos vice-campeões. Liderava o Campeonato Baiano quando aconteceu a eliminação para o Baraúnas. Foi muito ruim, mas todos já sabiam dos jogadores irregulares do Baraúnas. Mas a pressão foi grande. A imprensa, quando quer, derruba, ainda mais aí. Pode demorar, mas derruba. Não adianta brigar com a imprensa. Os técnicos e os jogadores precisam de vocês, e vocês da gente.

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