Por Nelson Barros Neto
Salvador - “Hoje em dia, a violência prevalece sobre a paz. E o pior é que isso vai ficar impune. Se ele tivesse dinheiro, apareceria logo o criminoso. Mas como não tem...”
As palavras raivosas do senhor Milton Vítor Pereira, em referência à morte do irmão Luiz Carlos, meia hora antes do primeiro Ba-Vi do ano, refletem um já antigo sentimento que permeia a sociedade brasileira. E não sem motivo.
Tanto Luiz quanto Pedro Sales Silva foram vítimas do clássico do dia 11 de fevereiro, disputado no Barradão. Um rubro-negro, o outro tricolor. Um na chegada, o outro na saída do estádio. Mera coincidência?
A dupla de homicídios completou hoje exatos cinco meses, porém ambas as famílias continuam esperando acontecer alguma coisa. O rol de escândalos recentes, ainda sem solução, não é formado apenas por Caso Neylton, Maré Vermelha, Maracangalha, Operação Navalha e crimes que o valha.
MOROSIDADE – Determina o Código de Processo Penal, em seu artigo 10, que o inquérito policial deverá ser encerrado em até 30 dias. “Se o fato for de difícil elucidação”, acrescenta o parágrafo terceiro, há a possibilidade de este prazo aumentar em mais 30. Mesmo assim, as mortes do Ba-Vi, que dentro de campo também terminou empatado em 1 a 1, seguem na fase inicial, de investigação.
Impedidas de ser denunciadas pelo Ministério Público (MP) e, finalmente, entrarem na etapa judiciária do processo, elas só dilatam a indignação reinante na saleta que abrigou o corpo dos dois torcedores, no Cemitério Quinta dos Lázaros. “A sensação é de total impunidade. Isso também incentiva outras pessoas a fazerem o mesmo”, acredita Milton, irmão de Luiz.
Autoridades tentam explicar demora
Como os assassinatos de Pedro e Luiz Carlos ocorreram em circunscrições policiais diferentes, os casos foram parar em delegacias distintas. Na 4ª, situada no bairro de São Caetano, a delegada titular, Celina Santos, admite a demora na investigação. Mas alega que se ela não for cuidadosa, com todas as provas e evidências se encaixando, não será suficiente para o oferecimento da denúncia ao Ministério Público.
”Não é desinteresse nosso, não. Pelo contrário. É que foi um homicídio meio difícil, pelo horário e pelo local“, afirma, sobre a morte do tricolor Pedro. ”Porém, ficou parecendo mesmo uma retaliação, algo passional“, completa.
A delegada da 10ª, Sandra Lima, por sua vez, garante que o inquérito de lá só depende do laudo cadavérico do rubro-negro Luiz para ser concluído. Situação que a própria assessoria de imprensa do Instituto Médico Legal confirma, diga-se.
Enquanto o capitão Marcelo Pita, responsavel pela unidade de imprensa da Polícia Militar, diz que a corporação não tem mais o que fazer a respeito do caso, o promotor de justiça Nivaldo Aquino, que ainda em fevereiro se comprometeu em acompanhá-lo, ao lado do colega José Renato Oliva, trata de defender o trabalho até então realizado. ”Estamos acompanhando. O fato não está esquecido. Mas, às vezes, é melhor realmente que se alongue a investigação para que se chegue aos verdadeiros culpados, do que acusar alguém sem provas, só para fazê-lo“, finaliza.
MEMÓRIA: Rivalidade mórbida
No dia 11 de fevereiro deste ano, nem bem o pedreiro Luiz Carlos Vítor Pereira chegou ao Barradão, junto com o vizinho Jorge de Jesus Barreto, quando um ônibus da torcida organizada Bamor teria surgido perto da dupla. Luiz vestia uma camisa da facção rival Os Imbatíveis e acabou sendo agredido com socos. Caiu no chão, chegou a se levantar depois, mas suportou apenas alguns segundos, em pé, antes de desabar novamente. A primeira assistência médica só apareceu no intervalo do jogo. Morador do Pau da Lima, o rubro-negro de 41 anos já aportou sem vida no Hospital Geral do Estado. Deixou esposa com deficiência física, uma filha de quatro anos e um filho de 17.
TRICOLOR – Fanático pelo Bahia, o aposentado Pedro Sales Silva, 43, foi espancado por quatro torcedores do Vitória no começo da noite daquele domingo. Quando já voltava para casa, ao lado de dois amigos, um vestido com a camisa da Bamor, ele desceu do ônibus na altura da BR-324, próximo ao Makro, no momento em que teria sido surpreendido pelos ´adversários´. De acordo com as testemunhas, estes estavam em um Palio vermelho e trajavam o calção da torcida Os Imbatíveis. Uma emboscada, supostamente. Pedro residia no bairro de Fazenda Coutos e deixou dois filhos.
Matéria publicada na edição desta quarta-feira (11/07/2007) do A Tarde.
Notas do autor:
Sábado, um ônibus da Bamor foi alvo de tiros na altura de Portão quando se dirigia a Aracaju para Confiança x Bahia.
Ontem, no Barradão, pessoas vestidas com camisa da "Os Imbatíveis" atacaram membros da "Inferno Coral", do Santa Cruz.
O motivo: "parceria" com a Bamor, que, não por acaso, tinha integrantes no Estádio.
A Leões da TUF, do Fortaleza, tem relação ainda mais estreita com a Bamor.
E sábado tem Vitória x Fortaleza.
Escolta de cinco policiais não adianta!
Atualizada às 0h11.